quarta-feira, dezembro 24, 2008

Feliz Natal e um 2009 de sucesso!!


À todos que acompanham o TnE, desejo um feliz natal, uma passagem de ano novo tranquila (ou frenética, depende do seu estilo, he-he) e que em 2009 possamos nos reencontrar. 

Que seus projetos se realizem! Eu mesmo tô cozinhando uns três aqui, e pretendo colocá-los em prática nesse próximo ano. 

sábado, dezembro 20, 2008

She-Dragon e Justiça (ou Savage Dragon #12)

Savage Dragon #12

Roteiros, desenhos e arte-final: Erik Larsen

Image Comics

Agosto de 1994


Lá em 1994, começar uma edição com uma splash page ainda não havia se tornado praticamente uma obrigação. De vez em quando, as histórias começavam com seqüências normais de quadrinhos – é até engraçado ver como esse fenômeno veio e voltou no mercado americano, tendo sido algo muito comum na Era de Prata, mas falemos disso outro dia.


Essa edição de Savage Dragon, especificamente, começa sim com um quadro de página inteira – o que talvez não seja lá mais tão impactante após o estouro que foi a sétima edição. Mas funciona.


Remetendo diretamente à sétima edição e à morte do tenente Frank Darling – colocada em xeque logo na edição seguinte, quando o vimos vivo e bem num avião, indo, conforme seria posteriormente revelado, encontrar sua esposa, que iria dar a luz à seu filho – essa primeira página trate de explicar esse aparente absurdo de forma bastante satisfatória, e me fez ficar meio puto com Larsen. Por que? Simples. Darling havia sido substituído por um robô transmorfo, mas isso havia ocorrido na guarda edição do título Vanguard, e não dentro da série mensal de Dragon. Mas, enfim, como isso é explicado, sem haver realmente a necessidade de se ler mais alguma coisa, deixemos a raiva de lado.


A história dessa edição aborda o impacto que Dragon causou à população de Chicago e introduz uma nova personagem: A She-Dragon, uma jovem de pele verde que é fã do policial. Ao mesmo tempo, conhecemos também Justiça, um jovem super-herói que usa o antigo traje do Superpatriota, e que aparentemente, também é um fã de Dragon.


Mas, afinal, quem que consegue não gostar de um cara como Dragon? Bem, se você for uma das aberrações envolvidas em assassinatos e crimes variados ligados ao Círculo Vicioso e à OverLord, o chefão do crime de Chicago, você com certeza não vai com a cara de Dragon. A edição apresenta uma rápida seqüência de luta entre Justiça e She-Dragon, em que cada um acha que o outro é o vilão responsável pelos assassinatos e, posteriormente, um conflito entre Dragon e o verdadeiro responsável, que termina de forma antológica: Dragon, ao ter sua cabeça mordida pelo vilão, arranca sua língua!


A edição é, em muitas formas, auto-contida, por não precisar que você tenha lido alguma coisa de Dragon antes, apesar de fazer referência à eventos passados. E termina também com uma certa sensação de resolução, mas não sem deixar um leve gancho pra o próximo mês. É mais ou menos como um bom episódio de uma série de televisão. A grande diferença aqui é que você não pode levar à televisão consigo pro banheiro ou pra fila do banco.


Savage Dragon é isso: grandes histórias, ótimos desenhos, enfim, diversão como dificilmente se encontra por aí. E surgem tantas coisas novas à cada edição que é impossível não ficar ansioso pela continuação.

Savage Dragon e o submundo

Savage Dragon #08 à 11

Roteiro, desenhos e arte-final: Erik Larsen

Março à Julho de 2004

Image Comics


A edição começa imediatamente após o fim da anterior, em que Dragon levou uma homérica surra de Overlord. Todo detonado, sem uma das mãos, Dragon desfalece em meio à forte neve que cai em Chicago. Os dias passam. Se tornam semanas. Dragon está tão machucado que mal consegue acordar, apenas se rasteja por becos escuros – até ser encontrado por dois vilões que derrotou anteriormente, Cutthroat e Hellrazor.

Vejam bem, estávamos nos anos 90. Os personagens tinham nomes ridículos e as revistas precisavam ter uma luta por edição. Esse excesso de violência é o que muito se costuma criticar nas obras do período, mas esses mesmos críticos deixam de ver o quanto que Larsen consegue ser completamente noventista sem deixar de ser genial.


A oitava edição é um exemplo disso. Ao lado, um exemplo de sua interessante composição de quadros. Ainda que a edição seja composta majoritariamente de um seqüência de luta entre Dragon e os dois vilões, sem muito diálogo ou história, um observador mais atento vê como que Larsen brinca com a estrutura da história, brinca com a composição de páginas, brinca com a forma de se contar uma história em quadrinhos - literalmente.


Insinua que o tenente Frank Darling possa estar vivo, insere novos personagens na trama – R. Richard Richards, um pastiche de J. Jonah Jameson, Maça, um vigilante dotado de métodos bastante violentos e os policias de Chicago, que começam a receber algum destaque. Faz isso sem muita firula, sem chamar muita atenção. Pavimenta o caminho para as próximas edições e dá o leitor o que ele busca: boas cenas de ação.


Esse padrão – uma grande seqüência de luta, com tramas se desenvolvendo ao fundo – permanece pelas edições seguintes. Na oitava edição, ao passo que aprofunda a existência de Maça e o elenco de coadjuvantes de Dragon, composto por uma série de mulheres bonitas e policiais dedicados, Larsen aborda novamente o Superpatriota, que já havia aparecido nas primeiras edições, trazendo-o novamente para enfrentar Dragon. Ele é mostrado como já liberto do controle da Cyberdata, mas sendo controlado por outro pessoa - um verme que havia controlado o monstro Shrew na primeira edição da série, em mais um exemplo de que nada que Larsen faz na série é gratuito. Tudo faz parte de uma trama maior.


O interessante de ler essas edições em seqüência é justamente perceber que Larsen aprofundaos personagens, suas relações, sem fazer muito. Avança um pouquinho em cada edição, amarrando uma ponta que soltou meses atrás e desenrolando outra que só vai fechar mais pra frente. O foco, repito, é a ação, é a pancadaria, é impressionar o leitor. Mas faz isso sem ofendê-lo.

Na décima edição, as diversas tramas começam a convergir. Overlord se interessa por Maça, considerando a hipótese de incluí-lo no seu séqüito. A polícia enfrenta mais um monstro: Jimbo, o Lagosta Poderosa. E a destruição causada pelo conflito entre ele e Dragon é combustível para as críticas de R. Richard Richards. E o demônio possuidor de corpos, enfrentado na segunda edição da série, retorna, fazendo uso do ódio que Richards instiga na população contra Dragon. O tenente Frank Darling? Está vivo, aparentemente, e vai ser papai.

Por fim, na décima - primeira edição, Larsen fecha temporariamente algumas tramas, sem verdadeiramente “dar um fim” em nenhuma. As aparições de Frank Darling após sua “morte” são explicadas – ele havia sido substituído por um transmorfo, para que pudesse assistir ao parto de sua esposa em segurança. O posicionamento do violento Maça frente o Círculo Vicioso é esclarecido: apesar de tudo, ele (aparentemente) está do lado dos mocinhos. O relacionamento entre Dragon e Rupture recebe grande destaque e Dragon finalmente enfrenta Fiend, o demônio possuidor de corpos que ressurgiu na edição anterior.

É engraçado ver que uma trama que era desenvolvida apenas por uma, duas páginas por edição, como o “namoro” entre Dragon e Rupture, recebe grande destaque nessa edição. Fica a expectativa pelo vindouro destaque à Maça. A edição termina um capítulo, mas deixa todas as narrativas em aberto, numa edição curiosamente mais focado no diálogo do que nas seqüências de ação, ao contrário das últimas.


Fiend ainda está à solta. Maça pode acabar se associando à Polícia de Chicago, mas será isso uma boa idéia? As opiniões de R. Richard Richards causarão mais mal à Dragon? E o que Overlord vai fazer ao descobrir a verdade sobre o tenente Frank Darling?


MUITAS perguntas. Algumas respostas. ÓTIMAS edições de Dragon. Competentes desenhos de Larsen.

Savage Dragon é viciante. Tome logo a sua dose.

Savage Dragon #142: Caindo em Desgraça

Savage Dragon #142

Roteiros, desenhos e arte-final: Erik Larsen

Dezembro de 2008

Image Comics


Em primeiro lugar: QUE CAPA, MEU DEUS, QUE CAPA! Larsen realmente fez um trabalho impressionante. A escolha das cores, os tons estourados, a composição da imagem (repare que a capa pode ser dividida em três “seções”), o logo num tamanho considerável, o traço suficientemente estilizado de Larsen. Enfim, tudo bem bacana.


Pode não chamar tanta atenção quanto a capa anterior, cheia de heróis, é bem menos apelativa e tudo mais, mas é o tipo de ilustração que, com cada nova vista, melhor vai ficando.


Larsen costuma começar cada uma das mais recentes edições de Savage Dragon com uma ilustração de página inteira, e acho que até agora eu ainda não tinha reparado direito nisso. É interessante notar que a composição é geralmente a mesma: O quadro é reduzido à uns três quartos da página e o título é escrita de forma grande o suficiente para que chame tanta atenção quanto o desenho. Larsen pode não ter a arte mais bonita do mundo, mas, com certeza, sabe de verdade COMO desenhar, sabe O QUE desenhar.


A história lida com a repercussão do inesperado desfecho da edição anterior, da forma como tudo dá errado para Dragon mesmo quando as coisas dão certo.


Metade da edição, mais ou menos, é composta de seqüências de ação. Não muito diferente do que Larsen fazia uns dez anos atrás. Mas é interessante notar o quanto que ele evoluiu. As cenas de luta são entrecortadas por outras narrativas, que, inclusive, acabam se cruzando – Angel, filha de Dragon e Alex, sua ex-parceira na polícia, acabam se encontrando com Star e Red Giant, que vinham sendo perseguidos nas últimas edições – ou chegando mais perto de uma resolução – Malcolm, outro dos filhos de Dragon, encontra finalmente o homem que pode tirá-lo da dimensão em que se encontra e mandá-lo de volta pra casa.


Larsen também é inteligente. A luta de Dragon avança pela cidade, vai para o sub-solo, atinge o metrô e termina nos trilhos. E é tudo narrado de forma bem estrutura, com os desenhos quase que se movimentando e te jogando pra próxima página. É mostrada a reação das pessoas na calçada, dentro do vagão que é atingido pelo confronto... Tipo que coisa que eu mesmo não pensaria em retratar.

Dragon derrota o “herói” que havia vindo lhe enfrentar para vingar a o que ocorreu com Solar Man. É convidado para voltar à polícia de Chicago, apesar dos pesares. E, quando você pensa que as coisas talvez não tenham terminado tão mal, uma nova luta começa logo no finalzinho da edição, te deixando de queixo caído e louco pela próxima.


Até mês que vem, Dragon.

SuperPatriota

Eu sei que o Tornado Vermelho, o Homem-Máquina, o Ciborgue dos Titãs e o Visão tem muitos fãs. Eu, particularmente, desconheço as histórias clássicas que abordaram esse lado meio homem, meio máquina deles. Quando o personagem é um ciborgue, ou tem seu corpo composto majoritariamente de partes cibernéticas, o dilema “o quão humano eu sou?” é algo deveras interessante. Meu conhecimento se resume à alguns episódios de Jovens Titãs, em que o Ciborgue é comparado à uma pessoa com prótese – você perdeu parte do que lhe fazia humano, mas a máquina, ou, no caso, a prótese, é parte de você. A máquina faz parte do homem, não o contrário.O Homem-Máquina de Warren Ellis é extremo oposto disso: um ser cibernético que ojeriza os “seres carniformes”. Uma abordagem interessante – e hilária.


O Superpatriota de Larsen, nas suas participações na série de Dragon, não era muito definido. Pouco se sabia de seu passado e o que ele viria a ser no futuro. Antes, um dos maiores heróis do mundo. Destroçado pelos vilões modernos, cada vez mais violentos, e reconstruído como uma máquina assassina.

Larsen se uniu ao mais que competente Keith Giffen para definir quem é esse homem – e, mais importante, definir se ele é um homem ou uma máquina.


SuperPatriot #01 à 04

Argumento e Lay-Outs: Keith Giffen

Roteiro e Diálogos: Erik Larsen

Desenhos e Arte-final: Dave Johnson

Julho à Novembro de 1993

Image Comics


Ao contrário de Blood & Guts, em que Larsen deu completa liberdade para outro autor trabalhar seus personagens, em Superpatriot, ele fez parte da equipe criativa. A diferença é brutal.

A trama pode até ser considerada simples – Superpatriota, a mais perigosa máquina de combate dos Estados Unidos, é reativado, apesar de ser instável estado, para enfrentar uma suposta organização terrorista, conhecida como Covenant of the Sword.


É interessante notar a integração – na época – entre os diversos títulos publicados pelos sócios da Image. O Superpatriota, na década de 1940, era amigo de Diehard, membro do Youngblood de Rob Liefeld, e é uma inspiração para o líder da equipe, Shaft. E quem o transformou numa máquina foi a Cyberdata, empresa nêmese da Cyberforce, equipe criada por Marc Silvestri. E o Superpatriota, após enfrentar Dragon, voltou ao controle da Cyberdata, até ser resgatado por Diehard, numa edição de Youngblood. Tudo muito bacana, mas não precisa saber de nada disso pra curtir a história.


O que me surpreendeu mesmo com o trabalho de Giffen e Larsen foi o quanto que eles investiram no lado emocional, abordando os traumas psicológicos que o Superpatriota desenvolveu após ter sido tão abusado. Ter sido massacrado pelos seus inimigos, enfrentar Dragon, virar um rato de laboratório para o Governo dos Estados Unidos...


Seu corpo foi mutilado? Foi, além do imaginável. Mas foi sua mente que mais foi perturbada. Foi sua noção de ser ou não um homem, ser ou não humano que foi corrompida. E tudo isso é passado para o leitor sem que ele diga uma única palavra por três edições inteiras. A ligação com o Youngblood é deixada bem clara. Shaft na primeira edição, Sentinel na segunda, Diehard na terceira. Todos tem alguma coisa à ver com Superpatriota. Todos o tomam como um grande herói. Todos estão preocupados com o que acontecerá à ele.


É até difícil estabelecer o ponto alto da mini. Num primeiro momento, eu talvez citasse a segunda edição, que conta com a participação de gente como Dave Gibbons, Kevin Nowlan e Karl Story nos flashbacks que contam um pouco da história do Superpatriota. Dá ao leitor realmente uma boa noção de quem ele era, e o quanto que foi horrível o que a Cyberdata fez com ele. Mas não. Não é mais vibrante, não é mais impactante que a conclusão do confronto entre Superpatriota e Diehard. Sabe, por mais que o confronto seja majoritariamente físico, e dure boa parte da edição, Diehard quer atingir a psique de Superpatriota, fazê-lo se lembrar de quem verdadeiramente é. E a cena em que ele, desesperado, tira a máscara do amigo, revelando seu rosto modificado, e tenta forçá-lo à se lembrar de quem é...


Cara, é por causa de momentos assim que eu, que você, que nós lemos quadrinhos. Momentos que nos fazem deixar o queixo cair, que nos fazem pular no lugar, sorrir por ter decidido ler aquela história ao invés de ir fazer qualquer outra coisa.


O desespero de Diehard, seus gritos tentando encontrar o amigo perdido em meio àquela carcaça de metal... O impacto que é finalmente ter o rosto de Superpatriota revelado... E ele finalmente tomando consciência do homem que é.


Não sei direito à quem creditar isso. Ao diálogo preciso de Larsen? Ao roteiro de Giffen, que concedeu profundidade tanto à Diehard quanto à Superpatriota, por mais similares que os dois fossem? Ao lay-out de página do mesmo Giffen, que deu à Dave Johnson, na época ainda um desenhista desconhecido no começo de sua carreira, a chance de entregar um excelente trabalho? Ao vibrante desenho de Johnson, que, com o auxílio do colorista Lovern Kindzierski, passe todo o sentimento que a história precisa pasar? Que emociona o leitor de verdade, que o faz torcer por um personagem criado à pouco tempo tanto quanto torceria por um dos ícones de sua infância?


Conforme relembro essa história para escrever esse texto, fico feliz de dar dado uma chance à Dragon, e ter ficado curioso pra conhecer seu universo. A minissérie termina com muitos pontos em aberto: O que acontecerá com a Covenant of the Sword? Como o governo lidará com o pleno retorno do SuperPatriota? E, mais importante, há o forte gancho da última página, em que Mighty Man convida o Superpatriota para tomar parte da equipe que ele está formando, a Freak Force.


Uma grande história. Dê uma chance. Garanto que você vai se surpreender.