sábado, dezembro 20, 2008

SuperPatriota

Eu sei que o Tornado Vermelho, o Homem-Máquina, o Ciborgue dos Titãs e o Visão tem muitos fãs. Eu, particularmente, desconheço as histórias clássicas que abordaram esse lado meio homem, meio máquina deles. Quando o personagem é um ciborgue, ou tem seu corpo composto majoritariamente de partes cibernéticas, o dilema “o quão humano eu sou?” é algo deveras interessante. Meu conhecimento se resume à alguns episódios de Jovens Titãs, em que o Ciborgue é comparado à uma pessoa com prótese – você perdeu parte do que lhe fazia humano, mas a máquina, ou, no caso, a prótese, é parte de você. A máquina faz parte do homem, não o contrário.O Homem-Máquina de Warren Ellis é extremo oposto disso: um ser cibernético que ojeriza os “seres carniformes”. Uma abordagem interessante – e hilária.


O Superpatriota de Larsen, nas suas participações na série de Dragon, não era muito definido. Pouco se sabia de seu passado e o que ele viria a ser no futuro. Antes, um dos maiores heróis do mundo. Destroçado pelos vilões modernos, cada vez mais violentos, e reconstruído como uma máquina assassina.

Larsen se uniu ao mais que competente Keith Giffen para definir quem é esse homem – e, mais importante, definir se ele é um homem ou uma máquina.


SuperPatriot #01 à 04

Argumento e Lay-Outs: Keith Giffen

Roteiro e Diálogos: Erik Larsen

Desenhos e Arte-final: Dave Johnson

Julho à Novembro de 1993

Image Comics


Ao contrário de Blood & Guts, em que Larsen deu completa liberdade para outro autor trabalhar seus personagens, em Superpatriot, ele fez parte da equipe criativa. A diferença é brutal.

A trama pode até ser considerada simples – Superpatriota, a mais perigosa máquina de combate dos Estados Unidos, é reativado, apesar de ser instável estado, para enfrentar uma suposta organização terrorista, conhecida como Covenant of the Sword.


É interessante notar a integração – na época – entre os diversos títulos publicados pelos sócios da Image. O Superpatriota, na década de 1940, era amigo de Diehard, membro do Youngblood de Rob Liefeld, e é uma inspiração para o líder da equipe, Shaft. E quem o transformou numa máquina foi a Cyberdata, empresa nêmese da Cyberforce, equipe criada por Marc Silvestri. E o Superpatriota, após enfrentar Dragon, voltou ao controle da Cyberdata, até ser resgatado por Diehard, numa edição de Youngblood. Tudo muito bacana, mas não precisa saber de nada disso pra curtir a história.


O que me surpreendeu mesmo com o trabalho de Giffen e Larsen foi o quanto que eles investiram no lado emocional, abordando os traumas psicológicos que o Superpatriota desenvolveu após ter sido tão abusado. Ter sido massacrado pelos seus inimigos, enfrentar Dragon, virar um rato de laboratório para o Governo dos Estados Unidos...


Seu corpo foi mutilado? Foi, além do imaginável. Mas foi sua mente que mais foi perturbada. Foi sua noção de ser ou não um homem, ser ou não humano que foi corrompida. E tudo isso é passado para o leitor sem que ele diga uma única palavra por três edições inteiras. A ligação com o Youngblood é deixada bem clara. Shaft na primeira edição, Sentinel na segunda, Diehard na terceira. Todos tem alguma coisa à ver com Superpatriota. Todos o tomam como um grande herói. Todos estão preocupados com o que acontecerá à ele.


É até difícil estabelecer o ponto alto da mini. Num primeiro momento, eu talvez citasse a segunda edição, que conta com a participação de gente como Dave Gibbons, Kevin Nowlan e Karl Story nos flashbacks que contam um pouco da história do Superpatriota. Dá ao leitor realmente uma boa noção de quem ele era, e o quanto que foi horrível o que a Cyberdata fez com ele. Mas não. Não é mais vibrante, não é mais impactante que a conclusão do confronto entre Superpatriota e Diehard. Sabe, por mais que o confronto seja majoritariamente físico, e dure boa parte da edição, Diehard quer atingir a psique de Superpatriota, fazê-lo se lembrar de quem verdadeiramente é. E a cena em que ele, desesperado, tira a máscara do amigo, revelando seu rosto modificado, e tenta forçá-lo à se lembrar de quem é...


Cara, é por causa de momentos assim que eu, que você, que nós lemos quadrinhos. Momentos que nos fazem deixar o queixo cair, que nos fazem pular no lugar, sorrir por ter decidido ler aquela história ao invés de ir fazer qualquer outra coisa.


O desespero de Diehard, seus gritos tentando encontrar o amigo perdido em meio àquela carcaça de metal... O impacto que é finalmente ter o rosto de Superpatriota revelado... E ele finalmente tomando consciência do homem que é.


Não sei direito à quem creditar isso. Ao diálogo preciso de Larsen? Ao roteiro de Giffen, que concedeu profundidade tanto à Diehard quanto à Superpatriota, por mais similares que os dois fossem? Ao lay-out de página do mesmo Giffen, que deu à Dave Johnson, na época ainda um desenhista desconhecido no começo de sua carreira, a chance de entregar um excelente trabalho? Ao vibrante desenho de Johnson, que, com o auxílio do colorista Lovern Kindzierski, passe todo o sentimento que a história precisa pasar? Que emociona o leitor de verdade, que o faz torcer por um personagem criado à pouco tempo tanto quanto torceria por um dos ícones de sua infância?


Conforme relembro essa história para escrever esse texto, fico feliz de dar dado uma chance à Dragon, e ter ficado curioso pra conhecer seu universo. A minissérie termina com muitos pontos em aberto: O que acontecerá com a Covenant of the Sword? Como o governo lidará com o pleno retorno do SuperPatriota? E, mais importante, há o forte gancho da última página, em que Mighty Man convida o Superpatriota para tomar parte da equipe que ele está formando, a Freak Force.


Uma grande história. Dê uma chance. Garanto que você vai se surpreender.

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