domingo, dezembro 07, 2008

Dragon: Uma questão de sangue e tripas

Entre a última edição da minissérie que lhe deu origem e o primeiro número do título mensal de Savage Dragon, há uma lapso de mais ou menos um ano, um ano e meio. Para contar essa história, Erik Larsen chamou um artista relativamente desconhecido, mas de muito talento:Jason Pearson, para escrever e desenhar uma minissérie em 3 partes.

The Dragon: Blood & Guts #01 à 03
Roteiro e desenhos: Jason Pearson
Arte-final: Karl Story
Março à Maio de 1995
Image Comics

Hoje, Pearson é sinônimo de um arte estilizada e cheia de dinamismo. Criador da série Body Bags, é um daqueles desenhistas estilo Art Adams, que possui uma arte diferente do que se costuma ver, mas que só trabalha uma vez ou outra, e geralmente fazendo capas ou histórias curtas ao lado de criadores importantes, como Alan Moore, Warren Ellis, Geoff Johns e Brian Bendis. Mas em 1995 ele não passava de uma cópia do Humberto Ramos, cuja experiência se resumia à uma série de fill-ins no título da Legião de Super-Heróis.

De todos os profissionais no mundo, Larsen foi entregar justamente pra esse cara a responsabilidade de escrever e desenhar seu personagem? Por essa decisão, de dar chance à um emergente talento, eu congratulo Larsen, que seguiu os preceitos da Image de apresentar novos personagens, novos artistas, enfim, um novo rumo pro mercado. Pelo resultado final, entretanto...

Pearson simplesmente não conseguiu acertar o tom do personagem. As histórias de Dragon são violentas, mas não são pura e simplesmente sobre violência. E as três edições dessa minissérie são basicamente isso. Violência. Sangue. Cabeças explodindo. Há citações interessantes, como o barman chamado Jon Woo, mas, na maior parte das vezes, eu fiquei me sentindo constrangido com as inúmero tentativas de Pearson de imitar a violência estilizada que Quentin Tarantino coloca em seus filmes. 

A trama é a mais simples possível: Dragon é convocado para acompanhar Alicia, testemunha-chave de um importante caso da promotoria de Chicago. O ex-marido de Alicia é um assassino psicótico, e ela deve ser levada até um local seguro até o dia do julgamento, para prevenir que seu ex-marido faça alguma coisa contra ela. Todos os vícios presentes nas histórias da décade de 90 estão aqui: ação descerebrada, diálogos compostos de frases de impacto, situações absurdas, páginas duplas, enfim, todo o pacote. 

O vilão é um contrasenso. Inicialmene retratado como um psicopata capaz de matar centenas de pessoas, incluindo aí toda uma comunidade católica, cujos corpos ele deixou pra apodrecer dentro da igreja, ele se torna, no meio da história, um coitado que segue ordens sem reclamar, mas hesita em matar a esposa. Cada uma das edições termina com um twist, um gancho pra tentar atrair o leitor pra próxima edição. Mas os diálogos são tão ruins, as revelações tão previsivéis, e, pior, Pearson esquece noções básicas de perspectiva na hora de desenhar. Eu mal conseguia arranjar coragem para ler a edição seguinte. Dessa vez, não funcionou, e estou bastante receoso em ler novamente o Dragon sendo escrito por qualquer pessoa que não o Larsen, aparentemente, o único que consegue balancear os elementos do personagem: humor, ação frenética, violência e diálogos interessantes.

3 comentários:

James Figueiredo disse...

Preciso reler "Blood & Guts",pra poder opinar sobre a história, afinal faz muito tempo que a série saiu, ams gostaria de comentar sobre isso aqui:

"Mas em 1995 ele não passava de uma cópia do Humberto Ramos, cuja experiência se resumia à uma série de fill-ins no título da Legião de Super-Heróis."

Olha, discordo - Se você olhar o primeiro trabalho dele pra Marvel, em Uncanny X-Men Annual #17 (se não me engano, o anual de 1993), vai ver que ele já tinha um traço bem próprio com bastante personalidade.

Um abraço,
J.

Noturno disse...

Argh... eu ODIEI o traço dele no anual dos X-Men! Detestei mesmo!!!

Sei lá, hoje talvez eu tenha outra visão quanto a arte dele. Na época eu estava começando a ler HQs e tudo que fugia do convencional (Jim Lee, Mcfarlane, Byrne) era ruim.

Hoje adoro arte do estilo do Quitely, Jean Paul Leon... enfim. Talvez eu acabe gostando do Pearson também, mas nunca vi um trabalho dele depois desse anual.

(Ah, lembrei... algumas capas de Amazing na fase do Straza que ele fez ficaram muito boas!)

Depois de ler esse review do Flávio vou passar longe dessa mini! hehehe...

Abraço!

flávio disse...

Olha James... Estão aqui os bocões, os pés disformes, as longas pernas... Enfim, em diversos momentos, me lembrava do Ramos de Impulse e Generation X.

ÓBVIO que o Pearson tinha personalidade, e um bom domínio de sequências de ação, mas a absurda sequência em que uma prostituta contratada pelo super-vilão ameaçador reclama do cheiro de uma igreja lotada de mortos e se recusa à cumprir o programa, mas quer ser paga mesmo assim é um exemplo de que ele ainda tinha muito à crescer também como escritor.

Tô com Body Bags aqui na pilha, em breve posto uma resenha. COM CERTEZA é melhor que isso.